Empatia na pele
Quando entramos no mundo das especializações médicas, a dermatologia pode não ser a primeira opção para alguns, mas para outros, pode ser o prisma de sua vida. Empatia, atenção e amor são alguns dos pilares que Maria Genucia Cunha Matos carrega em sua trajetória de vida, sempre entrelaçada com a dermatologia: “Em 1980, eu passei no vestibular da Faculdade de Medicina da UFC e daí comecei a me introduzir no mundo da medicina.
A dermatologia sempre foi muito interessante, pois exigia interação com o paciente sem a necessidade de muitos apetrechos. Você não precisava de estetoscópio, de tensiômetro, nem de eletrocardiograma; precisava de feeling, de amor ao paciente, de um bom ouvido e de um ótimo treino visual. Aquilo me incentivou muito.” Genucia relembra que suas inspirações profissionais vieram de berço: “Então, meu pai era médico e ele também me incentivou muito a fazer medicina.
O nome dele era Genefli Dismatos; ele era ginecologista em Juazeiro e muito querido, muito amado pelos pacientes.” A médica comenta sobre o entusiasmo no início de sua caminhada: “Na época, veja bem, a gente se formava em medicina porque queria salvar vidas, levar alento, amenizar a dor das pessoas. Ninguém falava sobre ganhar dinheiro, quanto ia ganhar; não havia nada disso.
A gente amava a medicina por amor ao paciente, um amor baseado nos princípios de Hipócrates.” A dermatologia veio de um canto de excitação para Genucia em seu início: “Aquilo ficou na minha memória. Pela minha ansiedade, pela minha inexperiência, eu fiquei tão nervosa por estar atendendo meu primeiro paciente como dermatologista, depois da faculdade, da residência, do mestrado, que realmente fiquei nervosa… aquilo ficou na minha lembrança.”
Após a graduação, a médica fez residência na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, no Hospital Pedro Ernesto. Em 1992, retorna à sua “terrinha” para cumprir a importante missão de ingressar na Universidade Federal do Ceará como professora do módulo de Dermatologia, cargo que Maria Genucia cumpre com orgulho há 32 anos. “A UFC, para mim, é uma casa, é minha segunda casa.
Foi onde entrei quando tinha 18 anos, hoje tenho 63”, conta. A escolha da especialização médica, segundo a professora, deveria ser baseada em identificação e amor: “Hoje, não são todos, mas uma grande maioria das pessoas está buscando a medicina com o objetivo financeiro, escolhendo as especialidades com base no lucro que cada uma pode trazer.
Isso nos entristece, né? Porque alguns me chamam de ‘a médica da pereba’, enquanto que a dermatologista que cuida da estética é vista de forma completamente diferente. Mas eu me orgulho de ser ‘a médica da pereba’!
Eu me orgulho. Isso não quer dizer que eu não faça estética; eu faço muita estética, mas amo a dermatologia na sua essência, na sua raiz.” Pela longa trajetória acadêmica e profissional, Genucia, hoje, consegue enxergar os obstáculos para se manter atualizada diante de todo o desenvolvimento tecnológico que estamos vivendo: “Medicina é o que eu digo para os meus alunos.
Não é aquilo que você estudou há 40 anos. A medicina de hoje é outra. As drogas mudaram, as doenças se modificaram, a fisiopatologia de muitas doenças foi esclarecida, a etiologia de outras também foi desvendada. Muitos medicamentos usados no passado deixaram de ser prescritos.
Houve muitos esclarecimentos sobre como os remédios agiam e como as doenças se processavam.” Assim, incentiva todos ao seu redor a continuarem estudando as grandes mudanças do mercado da medicina: “Muitos dos medicamentos do passado, hoje, não existem mais.
Estamos na era dos imunobiológicos, dos inibidores de JAK. Estamos na época da isotretinoína, que foi um marco na dermatologia nos meados dos anos 90, revolucionando o tratamento da acne. A dermatologia de hoje está a mil anos-luz de
distância.
Em 35, 40 anos, avançamos mais de 300 anos em termos de conhecimento e tratamentos.”
A cosmética foi um pilar que andou entrelaçada com o desenvolvimento dermatológico: “A cosmética, a cosmiatria, assumiu um papel gigantesco.
A cirurgia dermatológica, que antes se resumia a tirar um sinal, um vaso celular, hoje envolve rotação de retalhos, enxertos, e a cirurgia micrográfica de Mohs.”

Entretanto, no meio de várias mudanças e evoluções, para Genucia, alguns pontos permanecem lineares, como seu incentivo e amor pela profissão:
“Acho que o maior sucesso da minha carreira, ao longo desses 38 anos, é saber que passei conhecimento e estimulei muitos alunos a fazerem dermatologia.
É muito gratificante ouvir um aluno dizer: ‘Olha, professora, eu faço dermatologia por conta do amor que sentia que a senhora tinha nas suas aulas’. Para mim, isso é o que vai ficar.”
Hoje, Maria Genucia inspirou duas de suas três filhas a também se tornarem médicas.
A paixão pelo seu ofício serviu de combustível para encarar alguns desafios impostos pela vida, como a paralisia cerebral de sua filha do meio: “Eu não me pergunto como consegui isso; acho que
tive muito Deus na minha vida, que me ajudou a tocar tudo, trabalhar e cuidar dessas três meninas, transformando-as em seres humanos decentes, honestos, excelentes profissionais. Com isso, me sinto muito vitoriosa.”
Quando questionada sobre quais ensinamentos de carreira, além de conteúdo, ela tenta eternizar em seus residentes, a professora finaliza: “A pele, como eu digo, reflete a sua saúde interna e a sua saúde mental. Ela é o espelho da nossa alma.
Então, temos que cuidar bem da pele, nutri-la, tratá-la bem, para que isso possa ter um reflexo positivo na sua vida em geral.
Entrar na dermatologia com amor, com carinho, com o cuidado que qualquer paciente merece ter.”